terça-feira, janeiro 07, 2025

Narrativa e storytelling

Wallace Vianna é designer e blogueiro

Imagem: Território digital

Narrativas aceleradas 

Certa vez, na época em que a MTV chegou ao Brasil (anos 80/90) ouvi uma entrevista com um executivo da TV brasileira dizendo que havia uma orientação da direção da empresa para "acelerar a narrativa" das histórias produzidas ali. Na hora não liguei os fatos, mas a MTV e a linguagem do video-clipe aceleraram a narrativa do audiovisual no mundo.

Histórias encurtadas

Anos depois fui numa palestra técnica sobre internet e o palestrante fez algo que achei curioso mas hoje é muito correto: começou a apresentação "pelo fim", falando das empresas que adotaram determinada tecnologia, do alcance dela na Internet e dos lucros gerados. No meio explicou a tecnologia e no fim falou sobre como a tecnologia surgiu. Ou seja, se fosse um livro, seria na ordem cronológica invertida.

Mas o origem desse formato de storytelling/contação de história parece ter origem na mídia sensacionalista, que até hoje se esforça para ganhar audiência. É o jornalístico da TV que demora a mostrar o assunto principal; ou a matéria escrita com titulo apelativo e que possui texto longo e cheio de propagandas no meio. Tudo isso criou uma falta de paciência no espectador que, aliado à cultura da "velocidade 2X" para absorver  informação digital, faz com que o "contar histórias" hoje seja uma narrativa circular, começando pelo fim, pra depois focar no início.

Conclusões 

O lado ruim dessa aceleração do tempo de narrativa e da história a ser contada é que esse estado de coisas não é natural e sim social. O ser humano não evoluiu biologicamente pra processar informação nessa velocidade (já foi medido que o pensamento humano é lento como as primeiras conexões de internet, em telefone discado) e portanto narrativas atuais são fontes de estresse.

Não vejo luz nesse túnel, apenas percebo que o resgate de uma "vida mais simples" parece ser o futuro desejável para a humanidade.