segunda-feira, abril 18, 2011

Shakespeare no século XXI



Neste domingo foi apresentado o fechamento da X mostra do Teatro EcoaPassando a mão em Shakespeare”. Essa última apresentação poderia se chamar “Shakespeare no segundo milênio” pois fez uso de referências da cultura brasileira atual (citações de músicas, que se encaixam na temática de algumas obras de Shakespeare) e tecnologia (som de celulares dos espectadores, em cena!).

O enredo é original pois restrata personagens de textos inacabados de Shakespeare, que ficam sem ter como prosseguir dentro de um texto sem conclusão, daí o caráter fragmentado e auto-recursivo da peça. "Sem desmerecer quem faz isso bem, mas fazer colagens de textos Shakespearinianos seria muito óbvio, daí o conceito da peça", como afirma Gabriel Barros, um dos atores.

A apresentação foi interessante, pois, mesmo quem não conhece a obra de Shakespeare (como eu) pôde entender que o texto é uma colagem de trechos da obra do autor, despertando o interesse de se conhecer a obra. A estrutura de repetição reforça a importância dos trechos escolhidos, e o tratamento “técnico” de fazer do texto ora drama, ora comédia, e do ambiente ora surreal, ora real (personagens ora andando em círculo, ora dialogando coerentemente) foram outras boas escolhas dramáticas.

Enfim, espero rever a peça em um espaço maior, já que a montagem merece esse tipo de tratamento.



sábado, abril 16, 2011

Reflexões 2011:3


Meu grande amigo Marco Muller certa vez escreveu que meus escritos (fanzines que fazia numa época anterior aos blogs) eram "uma surpresa, sempre observativa, atualizada e obstinada, me fazendo pensar e repensar fatos circulares da época".

Não sei se minha percepção do mundo hoje é tão afiada, mas não conseguí ficar inerte quando ví essa manchete online do MSN:

Enterro virou entretenimento?

Missa de falecimento é entretenimento?
 










As aulas que faço hoje com o Mestre Gabriel, da ONG Ecoa, para mim são iluminadoras, nesta mesma perspectiva. Gabriel comentou que o artista (profissional?) tem de ter certo distanciamento dos fatos para poder produzir algo de criativo.

Por exemplo, todos os dias dezenas de pessoas morrem no interior do país, sem que isso seja manchete. Quando houve o temporal na região serrana - que tem um dos maiores IDH/indices de desenvolvimento humano do país - toda a mídia fez disso manchete, comovendo a opinião pública.
Sem querer dizer que os desabrigados não merecem atenção, acho que os pobres e carentes do interior também merecem nossas lágrimas. Como a tragédia em áreas nobres do país interessa mais aos donos da mídia do que a tragédia em regiões pobres, certas tragédias são cobertas em detrimento de outras.

Fazendo coro com o ponto de vista de mestre Gabriel, o crime na escola de Realengo/RJ é outro exemplo de como a mídia trata a tragédia como pão e circo: o brasileiro, povo passional e de cultura paternalista, quando há um crime precisa de culpados. Como o culpado se matou, a mídia mais autoridades localizaram quem vendeu as armas. Cadeia para os "responsáveis" pela tragédia. Tem mais alguém? Depredaram a casa da família do criminoso (outros "culpados"). Por fim, a mídia está discutindo a liberação de porte de armas (algo já discutido em plesbicito,anos atrás).
Agora, será que nenhum professor percebeu o comportamento "estranho" e "atípico" do criminoso, na escola? A família idem, em casa? O sistema educacional não precisaria ser revisto (vou além, a educação familiar, que está um lixo, tal qual os programas da TV aberta)?
O raciocínio é: "não está me incomodando, deixa prá lá". Raciocínio igual ao quando vemos menores vendendo limões nos sinais, quando deveriam estar na escola ou em casa, brincando, no aconchego da famíla. Pensamento igual ao quando vemos uma favela se formar próximo de nossas residências, sem fazer nada.

O resultado, em todos os casos é o mesmo: um dia o que ignoramos se volta contra nós. Somos todos meio culpados pelas tragédias que nos cercam, de certa forma, mas pior do que reconhecer isso é não fazer nada, e escolher ser levado pela opinião da mídia.
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Uma conta que não fecha para mim é o custo do progresso. Inventam-se formas de produzir mais barato, criam-se novos produtos semelhantes e similares aos tradicionais e os preços curiosamente não despencam. Vamos pegar um serviço, o acesso de internet. Primeiro havia a conexão discada; inventaram o acesso de banda larga, aumentaram a velocidade e hoje se navega na internet a 1MB por um custo de conexão discada (metade dessa velocidade), anos atrás.


Claro, há que lembrar que o ser humano trabalha com a idéia de "percepção de valor" - o que determina o valor das coisas é a visão que se tem delas, e não necessariamente o custo de produção, por mais que isso tenha limites práticos ou elásticos: veja esse vídeo sobre como as coisas são feitas para entender melhor.

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No curso que faço assistí a uma apresentação que se baseou na música Haiti de Caetano Veloso e Gilberto Gil. A letra é uma das maiores obras-primas da música, e não é à toa e a Wikipedia afirma que a importância da dupla é comparável a de Lennon e McCartney (vide artigo sobre Caetano):

"Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui"


 Letra completa aqui.

domingo, abril 10, 2011

Beatlemania

Não sou Beatlemaníaco, mas lendo na Wikipedia sobre os Beatles, me chamou a atenção o comentário de um fato que hoje é notório, os Beatles não tinham mais uma boa relação desde o Álbum Branco, curiosamente um dos melhores da carreira da maior banda musical de todos os tempos: (vide o texto da Wikipedia em "Discordância e atritos do disco").

O fim dessa relação foi comentado musical e publicamente pelos integrantes (me perdoem os links a seguir, tirados da tradução automática e "não contextual" do Google).

Paul McCartney fez a canção "Get Back/Volte", ainda com os Beatles expressando seu descontentamento com a presença de Yoko Ono na banda;  depois escreveu "Too many people/Muitas pessoas" para John, em disco solo, criticando-o por ser o pivô da separação da banda (indiretamente culpando Yoko pelo fim do bom relacionamento do grupo).

John respondeu ácidamente na carreira solo com "How do you sleep/Como consegue dormir", dizendo o que pensava de Paul "Um rosto bonito pode durar um ano ou dois" (aliás, ele já fizera isso antes com "Glass union/Cebola de vidro", onde ele diz em "I am the Walrus/Sou o lobo marinho", uma canção dos Beatles: "aqui está uma dica para vocês todos/O lobo marinho era Paul").

Paul respondeu de forma bem-humorada com a famosa "Silly love songs/Tolas canções de amor"; fez ainda "Tomorrow/Amanhã" para acabar com a discussão (respondendo ao argumento de John de que "a única coisa que você fez de fato foi Yesterday" - com alusão de que todas as outras canções do grupo foram trabalho coletivo, com exceção desta). A própria letra ao ter como refrão "Don't let me down tomorrow/Não me decepcione amanhã" faz ironia com uma cançao de John, na época dos Beatles,"Don't let me down/Não me decepcione". Segundo consta, a dupla Lennon/McCartney não compunha mas assinava em dupla, assim como Roberto e Erasmo, anos depois do sucesso.

George também deu sua versão dos fatos, ao dialogar com Ringo em "All Those Years Ago/Todos aqueles anos passados" e "When We Was Fab/Quando éramos fabulosos".

Enfim, fim de relação não é algo para se comemorar, mas acredito que muita coisa poderia ter sido evitada à época se alguém sugerisse a tempo: os Beatles poderiam gravar músicas individualmente e editar em forma de álbuns, com o nome do grupo (The Beatles). De certa forma eles já faziam isso desde o Álbum Branco (como cita o mesmo texto da Wikipedia, "McCartney, multi-instrumentista, tocou bateria em "Back in the U.S.S.R." e "Dear Prudence").